Por José Carlos Campos Velho:
“Olá! Eu me chamo…”. A dra. Kate Granger, falecida dia 23 de julho de 2016, criou esta campanha para estimular os profissionais de saúde a se apresentarem para seu pacientes, quando entrassem em contato com eles. Acometida de um sarcoma, que ceifou a sua vida, Granger, geriatra formada em Edimburgo, descobriu ser portadora da doença aos 29 anos. Como paciente, percebeu que frequentemente as pessoas responsáveis por seu cuidado não se apresentavam ao aproximar-se dela, muitas vezes para diálogos e decisões importantes. Ela criou a campanha #hellomynameis, principalmente através das redes sociais, como no Facebook, no Twitter e em seu blog, onde teve milhares de seguidores, acreditando que algo pequeno pode fazer uma grande diferença, pois representa uma faceta do humanismo e da compaixão no cuidado médico.
O seu site na internet www.hellomynameis.org.uk demonstra a dimensão que a campanha tomou, particularmente no Reino Unido, onde teve enorme repercussão no Sistema Nacional de Saúde (NHS). A iniciativa atingiu amplamente as equipes multiprofissionais, desde médicos e enfermeiros, passando pelos demais profissionais de saúde e equipe administrativas em várias instâncias do sistema de saúde.
Ao subscrever-se à campanha, a pessoa se propõe a apresentar-se rotineiramente para pacientes e acompanhantes, tratando-os como o faria caso fossem amigos ou parentes, vendo-os como uma pessoa, não como um diagnóstico e procedendo sempre com respeito e dignidade. A idéia da dra. Granger é simples: o simples ato de apresentar-se para o paciente leva à quebra de barreiras e permite o início de um relacionamento mais compassivo, na medida em que aproxima o paciente e o profissional de saúde.
Em suas palavras, “apresentar-se é algo simples que todos nós podemos fazer, não tem custo nenhum e praticamente não toma tempo, mas realmente melhora a experiência do paciente. Isso alivia a ansiedade, estabelece conexões humanas, relacionamentos terapêuticos, além da confiança e da harmonia que todos nós gostaríamos de adquirir com nossos pacientes”.
Em seu site ela afirma “que acredita firmemente que isso não é somente cortesia, mas algo muito mais profundo. Apresentações falam sobre fazer uma conexão entre um ser humano que está vulnerável e sofrendo e outro ser humano que deseja ajudá-lo. Desta maneira eles iniciam relacionamentos terapêuticos e podem instantaneamente ganhar confiança em circunstâncias difíceis. Na minha mente, #hellomynameis é o primeiro degrau da escada para prover um cuidado verdadeiramente compassivo e centrado na pessoa.”
Explorando o site, temos acesso à multiplicidade de aspectos que a campanha tomou e uma pequena noção de sua dimensão. Uma galeria de fotografias de pessoas que se engajaram na campanha em seus locais de trabalho, em convenções, com o logotipo que se tornou a marca da campanha nos mais diversos instrumentos e ambientes. A página “Support” mostra personalidades públicas como Atul Gawande, Drew Barrymore, Bob Geldof, além de figuras políticas e do mundo empresarial manifestando seu apoio. Uma pequena “loja” virtual permite que se adquiram uma série de símbolos e ítens da campanha, cujas vendas revertem parcialmente para o Yorshire Cancer Centre Appeal, onde Kate recebia tratamento.
A Sociedade Italiana de Slow Medicine abraçou a causa, divulgando a campanha no seu website e do twitter, através do hashtag #buongiornoiosono. Citando as palavras do Manifesto, pondera que “apresentar-se é Sóbrio, porque facilita a identificação profissional, diminui mal-entendidos e permite que os pacientes e familiares façam as perguntas certas para a pessoa certa; é Respeitoso, porque mostra a atenção para com os outros e disposição para o estabelecimento de uma relação entre as pessoas; é Justo porque um dos direitos fundamentais de todos é se sentir acolhido e reconhecido na relação: a relação com uma pessoa sem nome não é um relacionamento.”
No Grupo do Facebook Slow Medicine da Itália, que hoje reúne mais de 4500 pessoas, a campanha ilustra a foto da capa.
Os cuidados médicos tem se tornado bastante impessoais, perdendo de vista a questão que a essência de uma boa assistência são bons relacionamentos entre profissionais e pacientes. Kate Granger expressou que gostaria de deixar #hellomynameis como seu legado. Divulgar o seu trabalho é uma pequena contribuição que podemos fazer, para que o mesmo possa sensibilizar pessoas e auxiliar os pacientes a enfrentar alguns dos momentos difíceis de suas vidas.
#olaeumechamo …. José Carlos e sou médico.
