Anatomia de uma epidemia

setembro 25, 2017
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Por Ana Célia de Souza:

“Gostaria de assinalar que há na história da medicina muitos exemplos de situações em que a vasta maioria dos médicos faz alguma coisa que dá errado. O melhor exemplo disso é a sangria, que foi a prática médica mais comum desde o séc. I d. C. até o século XIX.”

Ghaemi, N.

(Conferência da Sociedade Norte-Americana de Psiquiatria (APA), 2008)

Como integrante do grupo e defensora do movimento Slow Medicine, gostaria de convidar para uma reflexão difícil, profunda e exigente de coragem, não só os profissionais da área de saúde e da saúde mental – os prescritores – como também os usuários de drogas psiquiátricas.

Estando formada há vinte e sete anos, calcada intuitivamente em princípios básicos da filosofia Slow Medicine – tais como: enfatizar o cuidado focado no paciente, com a escuta cuidadosa e respeitosa de sua história, seus valores e sua individualidade, pois a falta de escuta é uma das maiores enfermidades atuais; ter como eixo do exercício médico uma relação com o paciente sólida, criando laços estreitos e duradouros, implicados na empatia, no respeito mútuo, na compaixão e na preocupação com a dignidade do outro; considerar que o tempo e a atenção ao paciente melhoram a tomada de decisão que deve ser compartilhada; cultivar a arte tanto de não intervir na autonomia e autocuidados, como da sabedoria da observação clínica; “na dúvida, não fazer o mal”; focar na humanização e não na tecnologia, que deve ser utilizada com bom-senso; e acolher multidimensionalmente o outro: familiar, social, psicológico e espiritualmente – sensibilizada por evidências da minha prática clínica e por estudos sobre o sofrimento humano, aproximadamente há dez anos não mais utilizo essas drogas.

Hoje, sinto-me muito agradecida e feliz por poder apresentar aos leitores as publicações recentes citadas a seguir, que além de receberem várias premiações importantes e serem traduzidas em muitos idiomas, corroboraram minha escolha como médica psiquiatra.

Anatomia de uma epidemia: pílulas mágicas, drogas psiquiátricas e o aumento assombroso da doença mental foi publicado pela primeira vez em 2010 nos Estados Unidos e em 2017 no Brasil, graças aos esforços dos doutores Fernando Freitas e Paulo Amarante, ambos da Fundação Fiocruz.

Anatomia de uma epidemia, escrito pelo premiado jornalista americano Robert Whitaker, é um livro que trafega no contrafluxo de uma das correntes mais fortes da pós-modernidade, pois questiona a medicalização da vida cotidiana.

Essa publicação foi recebida com dificuldades, principalmente por psiquiatras, da mesma maneira que outro título, aliado seu na contracorrente: Medicamentos mortais e o crime organizado: como a indústria farmacêutica corrompeu a assistência médica, publicado pela Bookman em 2016 e escrito pelo médico pesquisador dinamarquês Peter Gøtzsche – co-fundador da Colaboração Cochrane, fundador de The Nordic Cochrane Centre, professor de Delineamento e Análise de Pesquisa Clínica na University of Copenhagen e editor no Cochrane Methodology Review Group.

Ambos os autores, num contexto de denúncia e debate sobre a questão citada acima, mostram em detalhes as manobras de compra de instituições e formadores de opinião, que consolidam uma teoria e uma prática psiquiátricas reducionistas – “um sintoma, um diagnóstico, um fármaco”.

Enquanto Peter Gøtzsche, que aborda os medicamentos utilizados nas várias especialidades médicas, inicia sua pesquisa levantando acordos judiciais resultantes de processos por inadequação de várias ordens da indústria farmacêutica, observando conflitos de interesses na área da saúde – entre agências reguladoras, pesquisadores, clínicos e laboratórios produtores de medicamentos – e finalmente, por um estudo minucioso de ensaios clínicos, muitas vezes fraudulentos ou com resultados desfavoráveis ocultados ou retirados sem notificações, Robert Whitaker, focando apenas nas drogas psiquiátricas, vai buscar respostas “no subsolo da Biblioteca Countway, na Faculdade de Medicina de Harvard, um de seus locais favoritos em Boston”. Nas palavras do autor: “a Biblioteca parecia ter comprado praticamente todas as publicações médicas já lançadas e nunca decepcionou”.

Gøtzsche – assombrado com o fato de “os medicamentos prescritos serem a terceira causa de morte no mundo, depois das doenças cardíacas e do câncer” – sempre se utilizando de provas, expõe “a indústria farmacêutica e seus comportamentos fraudulentos tanto na pesquisa como no marketing” e aborda uma falha geral do Sistema “causada por um crime de corrupção disseminado acompanhado de uma regulação ineficaz de medicamentos”, que segundo o autor necessita de reformas radicais urgentes.

Robert Whitaker, o reconhecido jornalista científico em temas médicos, apresenta-nos não só estatísticas, mas a história de um enigma na medicina. Intrigado em solucionar um quebra-cabeça, que pode ser explicitado de forma sucinta como a falta de encaixe entre as seguintes peças: o anúncio do grande avanço científico na psiquiatria nos últimos cinquenta anos e a epidemia oculta de doentes mentais inválidos nos Estados Unidos, desde a “descoberta” dos medicamentos psicotrópicos.

“Como sociedade, passamos a aceitar os grandes progressos no tratamento das doenças mentais anunciados por jornais, revistas e livros, advindos de cientistas descobrindo causas biológicas dos distúrbios mentais e empresas farmacológicas desenvolvendo diversos remédios eficazes”.

Apesar do poderoso consenso na aceitação de que “drogas psiquiátricas funcionam e ajudam as pessoas a levarem uma vida relativamente normal”, ao mesmo tempo, o número de pessoas com invalidez por doença mental teve um crescimento drástico e nas últimas duas décadas, período de explosão nas receitas de medicamentos psiquiátricos, o número de adultos e crianças incapacitados subiu vertiginosamente. Chega-se assim “a uma pergunta óbvia, ainda que de natureza herege: poderia o paradigma de atendimento medicamentoso, de alguma forma imprevista, estar alimentando essa praga dos tempos modernos?”

Nos últimos vinte e cinco anos, a psiquiatria por meio de seu Manual Diagnóstico e Estatístico (DSM) traçou uma fronteira entre o que é “normal” e o que não é. “Nossa compreensão social da mente humana, antes provinda de uma mescla de fontes – literatura, filosofia, textos religiosos e investigações científicas – é hoje filtrada apenas pelo DSM”. As “histórias” contadas sobre os desequilíbrios neuroquímicos reformularam a compreensão do funcionamento mental e questionaram concepções do “livre-arbítrio”. Nas palavras do autor: “será que somos realmente prisioneiros de nossos neurotransmissores? E mais importante, nossas crianças são as primeiras da história humana a crescerem sobre a sombra constante da “doença mental”. Não faz muito tempo, os vadios, os gaiatos, os valentões, os cê-dê-efes, os tímidos, os xodós dos professores e um sem-número de outros tipos reconhecíveis enchiam os pátios das escolas e todos eram considerados mais ou menos normais. Ninguém sabia o que esperar dessas crianças quando ficassem adultas, mas isso fazia parte da gloriosa incerteza da vida – na comemoração de vinte anos de formatura do curso médio, a menina tímida poderia aparecer como uma atriz de sucesso. Hoje, no entanto, as crianças diagnosticadas com transtornos mentais ajudam a povoar o pátio estudantil. São crianças informadas de que há algo errado com seu cérebro e de que talvez tenham que tomar remédios psiquiátricos pelo resto de suas vidas, assim como o ‘diabético toma insulina’ (afirmação mais usada para justificar e convencer da necessidade do uso contínuo)”.

São muito impressionantes os capítulos referentes à epidemia disseminada entre as crianças e adolescentes, que têm sido medicados já a partir de dois, três anos de idade. Em seguimentos de seis anos, as crianças medicadas apresentam uma inibição do crescimento e uma lista longa de outros efeitos adversos físicos e psíquicos bastante graves. A história estudada pelo autor por meio dos periódicos científicos “revela que a epidemia cresceu pari passu com a prescrição de estimulantes e antidepressivos para crianças”. Whitaker se pergunta com grande preocupação: “o que estamos fazendo com nossas crianças, nosso futuro como seres humanos?”

Quando aprisionamos uma pessoa dando-lhe um diagnóstico de uma doença, entendendo o ser humano como uma máquina com peças defeituosas, reduzindo-o a sua dimensão biológica apenas, penso que impossibilitamos, ou no mínimo dificultamos muito, que ela possa se responsabilizar por suas escolhas e atos, que reflita sobre seu modo de estar na vida, acomodando-se e muitas vezes, escondendo-se atrás desse papel de doente, de vítima, tornando-se impotente para se transformar, pois o problema não é ela e sim, uma “peça dela”, considerada muitas vezes insubstituível.

E no caso das crianças, a escolha de rotular e medicar sem a consciência dos efeitos a longo prazo, recai sobre os pais, professores e cuidadores, tornando a situação ainda mais grave, pois de modo geral, essas drogas facilitam o manejo das crianças em sala de aula ou de estar, mas, com alto custo no âmbito das funções cognitivas complexas ou mesmo desempenho acadêmico, com efeitos insalubres vários e sem encontrar nenhum benefício real segundo os dados de pesquisas até 2008 – um pouco antes da publicação do livro.

Além disso, de forma rigorosa, Whitaker “desvela a falsidade da hipótese “científica” que preside a teoria e o uso dos psicofármacos”. O autor documenta a história de “uma sociedade desencaminhada e traída”, trazendo à tona um enredo de outra natureza, na qual “as causas biológicas das doenças mentais continuam por serem descobertas e os medicamentos psiquiátricos vêm ‘alimentando’ a epidemia de doenças mentais incapacitantes”. Ainda, ao colocar por terra a presunção do desequilíbrio bioquímico que sustenta o uso desses medicamentos, analisa exaustivamente as investigações truncadas utilizadas para a aprovação e comercialização dessas drogas, que atuam criando um funcionamento anormal do cérebro. Ao mesmo tempo, com base no testemunho de uma série de pessoas tratadas por longo prazo, ainda questiona a eficácia das formas de tratamento hegemônicas.

Whitaker desconstrói “o mito de que as drogas psiquiátricas iniciaram um avanço científico extraordinário e que por conta desse avanço nas últimas décadas, a sociedade contaria, cada vez mais, com diagnósticos psiquiátricos precisos, com protocolos de intervenções objetivas e confiáveis, capazes de identificar problemas – que até então, ou não eram percebidos ou eram abordados de forma não científica – os quais (protocolos) deveriam orientar o tratamento adequado”.

Esse mito foi abordado recapitulando a história dos modos “como a psiquiatria tem tornado problemas usuais, comuns ao cotidiano da maioria das pessoas em “transtornos mentais”. Na sua desconstrução Whitaker adota a lógica própria que supostamente sustenta o discurso psiquiátrico: a das evidências científicas”.

A cada página lida somos surpreendidos com a constatação de que faltam justamente evidências científicas para a construção das categorias de diagnósticos, por exemplo. Nas sucessivas revisões dos DSM, dizem seus formuladores, que a causa dos transtornos mentais são essencialmente biológicas, sendo por isso mesmo, a medicação psiquiátrica essencial. Mas, “o que historicamente a psiquiatria tem feito é primeiro nomear transtornos para depois buscar as causas biológicas”.

A construção desses manuais está fundamentada na lógica de que se “um número importante de clínicos sente que determinada categoria de diagnóstico é importante em seu trabalho, então, ela merece estar no manual”. As versões do DSM têm como questão saber o quanto de consenso há para se reconhecer e incluir um transtorno mental qualquer. Porém, para a ciência, acordo não necessariamente significa “verdade científica”.

Na busca de Whitaker, com o intuito de solucionar o enigma que o intriga, o que “não faltam são evidências científicas para se entender esse fenômeno, tradicionalmente conhecido como iatrogenia”. São evidências interculturais investigadas pela própria Organização Mundial de Saúde (OMS), com estudos clássicos de follow-up; são experimentos em animais utilizando drogas psiquiátricas; são estudos prospectivos longitudinais acompanhando pessoas, entre pacientes diagnosticados que foram tratados ou não com medicamentos psiquiátricos por dois, cinco, dez, quinze, vinte e vinte e cinco anos. São pesquisas com imagens de ressonâncias magnéticas que demonstram a redução de lobos frontais ou outras estruturas neurais ao longo do tempo de tratamento com tais drogas; enfim, muitas revelações chocantes. E infelizmente, “as provas científicas simplesmente não parecem afetar os hábitos de muitos médicos em matéria de prescrições”.

Por fim, na quinta e última parte do livro “Soluções”, o autor, tentando tornar a conversa fecunda, apresenta projetos de reforma que poderiam contribuir para a construção de um futuro diferente.

Apesar das surpresas e desafios que o leitor vai encontrando na sequência da leitura, espero que possamos tê-la como um instrumento de reflexão, com o objetivo de poder melhorar o cuidado dirigido a todas as pessoas em sofrimento psíquico.

Bem, então, só me resta convidar a todos, que de alguma forma sejam afetados pelo sofrimento psíquico, para essa viagem investigativa, instigante e desafiadora. Boa leitura!

Referências

Gøtzsche, P. C. Medicamentos mortais e crime organizado: como a indústria farmacêutica corrompeu a assistência médica. Porto Alegre: Bookman, 2016.

Whitaker, R. Anatomia de uma epidemia: pílulas mágicas, drogas psiquiátricas e o aumento assombroso da doença mental. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2017.

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Ana Célia Rodrigues de Souza:

Sou médica psiquiatra, formada pela FMUSP em 1992, obtive meu mestrado em Ciências do Comportamento pelo ICB – USP em 1998 e o doutorado em Psicologia pelo IP-USP em 2017. Analista junguiana, uma apaixonada por orquídeas e jardins botânicos, “cinéfila” e leitora voraz, que como Jorge Luis Borges, pensa que o Paraíso deve ser uma espécie de Biblioteca. Buscadora, andarilha, caminhante, adoro viajar tanto para locais conhecidos – seguindo o conselho de Proust, com novos olhares para os mesmos lugares – como me aventurar por onde desconheço.

19 Comentários

  1. Prezada colega Ana Célia.
    Busquei recentemente referências médicas a respeito destes dois livros citados e encontrei teu texto aqui. Permita-me dizer que tuas colocações são inspiradoras, estimulantes e até um tanto tranquilizadoras para colegas médicos (me incluo nisso), que também percebem que há algo de errado na nossa medicina atual e que sentem a carência de uma nova forma de tratar os pacientes, principalmente no campo da saúde mental. Nos meus apenas sete anos de formado, enxergo que estamos em uma guinada rumo a uma medicina que praticamente “enxuga gelo” (uma tônica aqui no Brasil), mas também uma medicina (muito fortemente na psiquiatria) que rotula pessoas e, por vezes, as condena com adjetivos como “grave”, “refratário”, “persistente”, “crônico”, “recorrente”. Inclusive, isso me parece entrar no grande caldeirão de causas atuais que poderiam explicar o aumento no índice de pessoas em estado de invalidez social. Escutei uma vez em uma palestra um professor que disse: “Somos química, mas também somos história. Somos química com uma narrativa de pano de fundo”.
    Grato pela tua reflexão.

  2. Cara colega Ana Célia.
    Parabéns pela sua coragem e elevado grau de conhecimento do que realmente importa ao ser humano: a busca da sua essência anímica e as reais causas de sua aparente inadaptação à sociedade atual.
    Sou médico formado pela FMUSP em 1977, especialista em GO e Medicina Fetal .
    Devo confessar que, em muitos anos de carreira e profícua atuação em ambiente de ensino universitário, sua atuação foi certamente a mais impactante para orientar minha visão como médico, da verdadeira relação das reais causas das chamadas “patologias” e o abuso de tratamentos medicamentosos.

  3. Cara Ana Célia,
    Tenho essa exata percepção em relação a uma hipermedicalização, em especial das crianças.
    Assustador !
    Obrigada por compartilhar.

    • Cara Laura, realmente assustador! Agradeço por seu comentário! Considero muito importante que possamos divulgar esses dados e refletir sobre o que vem ocorrendo. Um abraço.

  4. Olá Bernardo, agradeço sua indicação! Um abraço

  5. Olá,
    gostaria de sugerir mais uma referência: Bessel van der Kolk.
    Ele tem um estudo muito interessante sobre transtornos pós-traumáticos e a relação entre trauma e doenças psiquiátricas – sendo, portanto, um grande crítico do DSM. Ele investiga e propõe toda uma série de tratamentos possíveis para além dos fármacos; e.g. yoga, neurofeeback, experiência somática, EMDR.
    Saudações e boas leituras.

  6. Boa noite Ana Célia e demais participantes.

    Eu li o referido livro, muito bom. E todo ele baseado em publicações científicas.

    Recomendo a leitura do livro “Voltando ao normal”, de autoria do Dr. Allen Frances, psiquiatra americano e um dos organizadores do DSM-IV, que faz críticas bem interessantes ao excesso de diagnósticos psiquiátricos e à medicalização da vida.

    Carlos Eduardo Leal Vidal
    Psiquiatra
    Professor da Faculdade de Medicina de Barbacena

    • Olá, Carlos Eduardo!
      Muito agradecida por seus comentários e fico feliz de que mais psiquiatras estejam refletindo e lendo sobre assunto tão importante! Obrigada tb pela dica do livro, que como comentou José Carlos Velho, temos a resenha disponível no site, feita pelo colega André Negrão. Um abraço

  7. Helena, realmente os livros indicados trazem revelações assustadoras e valem a pena serem lidos. Quanto às suas questões, não tenho dados para responder, pois desde que terminei a residência não mantive contato com esses serviços, não podendo informar sobre como esses conflitos de interesse se dão no Brasil.
    Sem dúvida, a situação é difícil e demanda urgente reflexão , não só da classe médica como também dos pacientes. Muito agradecida por seu comentário! Um abraço.

  8. Obrigada!
    Muito grave tudo! Tanto a medicina estragar o ser humano, quanto o ser humano não conseguir tratamentos dignos para suas doenças.
    Muito difícil.
    As universidades também estariam associadas às indústrias farmacêuticas?
    EPM-Unifesp, IPqHC-Usp, Unesp-Botucatu… todos estes serviços de ensino e pesquisa estariam unidos às mentiras da indústria corrompida e bandida?
    Difícil demais, não?
    Sou psiquiatra e psicanalista.

  9. Parabéns, Ana Célia, pela coragem de trazer uma reflexão de um tema tão polêmico mas necessário para os dias atuais. Sou psicóloga e psicodramatista, trabalho há mais de 20 anos e na minha pratica clinica acompanho muitos pacientes reféns dessa medicalização. Muitos desejam a liberdade de viver sem os medicamentos, mas já tive muita escuta do médico dizer: ” se você está bem para que retirar?….” . ” A medicina está a serviço de quem? Obrigada pela sua contribuição.

    • Marilane, a questão que traz é fundamental para a necessária e urgente reflexão nesses tempos “líquidos” (em todos os sentidos), em que estamos imersos. Muito agradeço também sua contribuição. Os dois livros indicados merecem ser lidos, são denúncias muito graves. Um abraço.

  10. Querida Ana Célia
    Sua atuação profissional é cada vez mais empolgante. Admiro sua capacidade, inteligência e coragem ao enfrentar questão tão polêmica. Meus cumprimentos emocionados.
    José Carlos Péres de Souza

    • Querido pai, fico muito lisonjeada e agradecida por seu respeito, apoio e incentivo, sempre! Beijo grande!

  11. Parabéns Ana pelo texto corajoso e extremamente necessário, principalmente para os dias atuais, onde a rotulação de uma doença pode condenar uma pessoa, não somente para os outros mas e talvez, principalmente para ela mesma. Citando uma frase de Sir William Olser (1849-1919), considerado um dos pais da medicina moderna, este sustentava que “é mais importante conhecer o paciente acometido por uma doença do que a doença que acometeu um paciente”. Tenho, na minha prática clínica, pacientes que após o tratamento do câncer se veem perplexos e atônitos por enfrentarem uma depressão. Alguns se sentem envergonhados de terem enfrentado um câncer mas se sentirem impotentes frente a “outro câncer” chamado depressão. É mais fácil rotular uma criança de hiperativa que proporcionar a ela condições de viver suas potencialidades exacerbadas como uma característica a ser trabalhada e não subtraída, negada, discriminada. Citando Bobbio, M., em seu Doente Imaginado: “A natureza humana é variada e os médicos deveriam aprender a não se aproximar do doente com ideologias e preconceitos, mas sim com a intenção de ajudá-lo a enfrentar uma passagem angustiante da existência, por causa do aparecimento de uma doença”. Grande beijo e reitero meus parabéns.

    • Querida Vera, fico muito agradecida por suas colocações, com as quais concordo plenamente. Considero suas citações primorosas de grande importância para a construção da reflexão que gostaria de facilitar com essa resenha. Bj grande também.

  12. Ana Célia escreve com as entranhas. Tudo o que fala vem de dentro, da experiência vivida. Parabéns pela resenha e pela coragem de falar o que precisa ser dito!

    • Obrigada, Sylvia!
      O que vem das entranhas é o grande desejo de podermos discutir com sinceridade essas questões tão importantes, ainda mais após denuncias tão graves.

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