Slow Medicine, um apelo internacional por um cuidado mais consciente

setembro 4, 2017
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Por Yung Lie:

Neste artigo vamos discutir as iniciativas da Slow Medicine que emergiram na Itália, nos Estados Unidos, na Holanda e no Brasil. Embora existam diferenças significantes entre as abordagens feitas nestes países, também existe uma extensa base em comum, além de valores compartilhados entre os quatro movimentos nacionais de Slow Medicine. Se os praticantes da Slow Medicine farão parte de um ponto de inflexão, liderando mudanças significativas na prática médica, é uma pergunta que não pode ser respondida neste momento. O amplo escopo na perspectiva geográfica e médica nos movimentos internacionais da Slow Medicine apresentam uma visão interessante sobre um novo jeito de pensar sobre saúde, cuidado e cura.

Origens da Slow Medicine: Itália

Em 2002, o renomado cardiologista italiano Alberto Dolara publicou um artigo no Italian Heart Journal . Esta foi a primeira publicação científica onde o termo Slow Medicine foi introduzido. Dolara escreveu: “Na prática clínica, hiperatividade é normalmente desnecessária. Adotar uma estratégia de ‘Slow Medicine’ pode ser mais recompensador em várias situações. Tal abordagem permitiria profissionais da saúde e, em particular, médicos e enfermeiras, a ter tempo suficiente de avaliar os problemas pessoais, familiares e sociais do paciente de forma extensiva, reduzir a ansiedade enquanto se espera por um diagnóstico que não é urgente e por procedimentos terapêuticos, avaliar novos métodos e tecnologias cuidadosamente, prevenir altas prematuras de hospitais e, finalmente, oferecer um suporte emocional adequado para um paciente terminal e suas famílias. ”

Este artigo desencadeou o começo do movimento Slow Medicine Italiano. A Slow Medicine Italiana foi fundada em 2011 como um movimento de médicos, profissionais da saúde, pacientes e cidadãos, destinado a promover processos de cuidado baseados em adequação, com uma relação de escuta, diálogo e compartilhamento de decisões com o paciente. Fortemente conectado ao movimento italiano Slow Food, a terra natal da Slow Medicine é Turim. Essa ‘Capital da Slow Food’ providenciou um solo fértil para o crescimento estável do movimento Slow Medicine. As organizações Slow Medicine e Slow Food não somente compartilham um logo similar, mas também cooperam em publicações científicas e populares. No livro Slow Medicine, o fundador do Slow Food, Carlo Petrini, escreveu o prefácio. Sua popularidade e impacto midiático ajudaram a lançar o Slow Medicine numa escala nacional.

Nos logos: O logo Slow Food é um caramujo. Para o Slow Medicine, dois caramujos foram escolhidos como logo. Esses dois animais representam os três princípios chaves da Slow Medicine e focam em uma relação igualitária entre médico-paciente: Sobria, Rispettosa, Giusta (Sóbria, Respeitosa e Justa).

Hoje em dia, a Sociedade Italiana Slow Medicine organiza e aprova cursos de pós-graduação e sessões de treinamentos por todo o país. Isso desenvolve protocolos médicos como uma alternativa à “Fast Medicine”  e defende a pesquisa baseada em evidências. A conferência anual Slow Medicine tem um número crescente de participantes, e os membros regulares da Sociedade Italiana de Slow Medicine ultrapassaram 250.

A mídia italiana (TV e jornais) cobre com regularidade notícias originadas na Associação Slow Medicine.

O impacto médico da Slow Medicine no sistema de saúde italiano

Olhando o portfólio de cursos de pós-graduação na Itália, temas das conferências e publicações, o movimento Slow Medicine Italiano é bem-sucedido em moldar alternativas à prática médica tradicional. Seu foco na importância do tempo como um elemento crucial no cuidado médico é claramente visível em diversos protocolos da Slow Medicine que foram desenvolvidos sob tutela da Associação Italiana de Slow Medicine. Além disso, a autonomia do paciente em escolher intervenções médicas e tratamentos tem aumentado. Este último aspecto é fortemente relacionado com o movimento internacional Choosing Wisely, com o qual a Slow Medicine Italiana tem um relacionamento visceral. O movimento italiano Slow Medicine se originou com uma participação de excelentes médicos e acadêmicos: cardiologistas, especialistas em medicina interna, cirurgiões e pediatras. Isso auxiliou a aceitação da Slow Medicine como uma alternativa médica plena à Fast Medicine. Portanto, a Slow Medicine não é de nenhum modo uma forma ou derivação da medicina alternativa, mas pode ser vista como uma nova abordagem à prática médica comum em hospitais, consultórios, et cetera.

Slow Medicine nos Estados Unidos

Nos Estados Unidos da América, não existe uma organização Slow Medicine reconhecida. Em vez disso, os princípios da Slow Medicine são defendidos por indivíduos que compartilham a mesma visão através de livros, publicações, palestras e no mundo virtual. Indiscutivelmente, o patriarca da Slow Medicine norte americana é o falecido Dennis McCullough, geriatra e professor em Dartmouth College. Como autor do best seller My Mother, Your Mother, ele descreve como o sistema de saúde nos Estados Unidos normalmente conduz à tratamentos excessivos e tratamentos redundantes para pessoas que em processo de final de vida, na maioria dos casos, com idade avançada. Ele entrelaça seus pontos de vista com narrativas pessoais sobre sua mãe e sua própria experiência como paciente hospitalizado. Dennis McCullough ensinou médicos mais novos como encontrar intervenções médicas que eram sóbrias, respeitosas e justas, como propostas pela Slow Medicine Itália anos depois.

“Graças aos avanços na medicina, a vida dos idosos e dos doentes pode ser significativamente prolongada. Mas a que custo? Tendo em mente a pergunta “O que é o correto para fazer com nossos pais neste momento?”,  como podemos evitar de sermos colhidos pela atual epidemia de morte por cuidados intensivos em que o cuidado é muitas vezes mais destrutivo do que a própria doença? Como fazer as melhores escolhas,  e tomar as decisões mais adequadas?”

Dennis McCullough passou a vida ajudando famílias a cooperar com o envelhecimento dos seus pais e com a eventual ‘passagem final’, experiências que ele também vivenciou com sua própria mãe. Neste livro reconfortante e muito necessário, ele recomenda uma nova abordagem: a Slow Medicine. Balizada pelo senso comum e pela bondade, fundamentada na medicina tradicional, mas receptiva às práticas integrativas, a Slow Medicine fundamenta-se na máxima menos é mais. Busca melhorar a qualidade de vida dos pacientes na maturidade tardia, sem comprometer suas famílias financeira ou emocionalmente. Intervenções médicas caras e modernas não necessariamente são as mais adequadas nestas circunstâncias. O cuidado personalizado e gentil muitas vezes produz melhores resultados, não apenas para idosos no final da vida, mas também para seus familiares.”

 

God’s Hotel

Dra. Victoria Sweet é Professora Clínica Associada à Universidade de Medicina da Califórnia, em São Francisco, e historiadora com um Ph.D. em História. Ela clinicou por vinte anos no Hospital Laguna Honda, em São Francisco, onde começou a escrever. No seu livro, God’s Hotel: A Doctor, a Hospital, and a Pilgrimage to the Heart of Medicine (Riverhead, 2012) , ela aponta evidências – em histórias sobre seus pacientes e o hospital – de algumas ideias rigorosamente novas sobre medicina e cuidados da saúde nos Estados Unidos. “Nas nossas tentativas de controlar os custos dos cuidados de saúde privilegiando “eficiência”, nós adentramos o caminho errado. A medicina funciona melhor – isto é, atinge o melhor diagnóstico e o melhor tratamento pela menor quantia de dinheiro – quando é pessoal e cara-a-cara; quando o médico tem tempo suficiente para fazer um bom trabalho, e presta atenção não só no paciente, mas no que está ao redor dele.” Dra. Sweet chama essa abordagem de Slow Medicine, e acredita que, praticada amplamente, seria não somente mais satisfatória e benévola para o paciente e o médico, mas também menos custosa para todos. Sua proposta de Ecomedicine Project almeja provar isso. Na medida em que estava fora do “mainstream”, cuidando de pacientes “sobre a colina, na casa dos pobres” (em tradução literal do termo “over the hill to the poorhouse”), o Hospital Laguna Honda, em São Francisco permitiu que Dra. Sweet aprendesse e colocasse em prática o que ela atualmente chama de Slow Medicine – em oposição a Fast Medicine , assim como a Slow Food é oposta à Fast Food.

Dra. Sweet afirma: “Slow Medicine dedica tempo para conversar, examinar e reexaminar um paciente; para contactar outros médicos; para ver com calma exames laboratoriais e radiológicos; para pensar sobre e refletir sobre diagnósticos; para descontinuar medicações que são, talvez, não mais necessárias; para tentar novas medicamentos – mas sempre com cautela. Eu escrevo sobre Slow Medicine em God’s Hotel, mas não escrevi nada  especificamente para outros médicos. A maioria dos médicos mais experientes já sabem disso, mas não a chamavam por este nome. Quem não sabe sobre isso são todos os outros. Bem, nossas bisavós sabiam disso. O problema é que o único jeito de realmente explicar a Slow Medicine é demonstrando, fazendo, e é por isso que eu espero criar um cenário – uma Unidade  de Ecomedicine ou uma Clínica de Segunda Opinião – onde a Slow Medicine possa ser sistematicamente praticada, ensinada e estudada.”

Knocking On Heaven’s Door

A terceira autora que infuencia a Slow Medicine é Katy Butler. Em 2013 ela publicou Knocking on Heaven’s Door. Quando os médicos se recusaram a desligar o marcapasso que mantinha  as batidas do coração de seu pai de 84 anos, sobrevivente de um acidente vascular cerebral debilitante e  evoluindo com uma grave demência, a jornalista Katy Butler embarcou em uma jornada para entender porque a medicina moderna estava privando seu pai de uma morte mais humana, em seu tempo. “Todos os dias, ao redor do mundo,” ela escreve, “cuidadores de familiares ponderam um procedimento médico que possa salvar a vida de um ente querido e debilitado.” Porém, quando é hora de deixar de intervir e permitir que a natureza siga seu curso? Quando é a hora de dizer a um médico “Deixe meu amado ir”? Com a habilidade de uma repórter, a visão de um poeta e o amor de uma filha, Butler aponta o caminho para uma nova arte de morrer em nossa era biotecnológica.

Além de escrever, Katy Butler ajudou a organizar uma ampla comunidade virtual internacional de entusiastas da Slow Medicine. A página no Facebook da Slow Medicine conta com quase 4000 membros, que compartilham seus conhecimentos e experiências na prática da Slow Medicine.

Embora não exista uma organização americana de Slow Medicine, existe uma grande coerência entre as visões e abordagens dos protagonistas da Slow Medicine nos Estados Unidos. Embora ele não tenha escrito um livro, Ladd Bauer, médico, é o quarto fundador americano da Slow Medicine. Em 2008, ele publicou um artigo sobre Slow Medicine, a primeira publicação sobre o assunto em Inglês. Mais tarde, ele apresentou um programa de rádio que tinha como tema central a Slow Medicine. Ele trabalhou próximo ao Dennis McCullough, em aliança com Katy Butler e Victoria Sweet. Eles exploraram a questão do excesso de tratamentos, especialmente quando as pessoas estão próximas do fim da vida. Particularmente no sistema de saúde dos Estados Unidos, onde médicos são inclinados a tratar excessivamente para evitar conflitos legais, a ideia de deixar as coisas fluir no seu tempo e reduzir intervenções, é um tanto conflituosa.

Updates in Slow Medicine

Uma nova plataforma foi introduzida nos Estados Unidos em 2014. “The Updates in Slow Medicine” oferece uma perspectiva mais ampla da Slow Medicine, que começa como uma série de discussões sobre avanços na medicina clínica entre estudantes, residentes e funcionários no Cambridge Health Alliance e na Escola de Medicina de Harvard. Essas discussões evoluíram para o envio regular de e-mails , ganhando seguidores entre os graduandos do programa, colegas e, eventualmente, médicos e formadores de opinião dos Estados Unidos. Uma nova expressão surgiu dessas discussões: “Slow Medicine”, que, consistente com o amplo movimento “Slow”, enfatiza um raciocínio clínico cuidadoso, prática baseada em evidências e a importância de mudanças no estilo de vida para a melhora da saúde. Os criadores do Slow Medicine Updates, Pieter Cohen e Michael Hochman, mais tarde refinaram suas definições de Slow Medicine como:

“A prática da medicina na qual se é cuidadoso em entrevistar (e examinar) os pacientes, cuidadoso em balancear riscos e benefícios das intervenções terapêuticas e diagnósticas, lentos para intervir quando os sintomas são pouco específicos, comprometidos com a observação como uma importante estratégia diagnóstica e terapêutica, e cauteloso ao adotar novos testes diagnósticos e terapias até que as evidências estabeleçam seu valor.”

Holanda: princípios da Slow Medicine

A Slow Medicine na Holanda teve um início muito modesto, com o lançamento de um website, focado em dar uma estrutura conceitual à Slow Medicine. Dick Kister, médico clínico geral, planejava organizar um workshop sobre “não fazer”, em oposição ao reflexo médico Pavloviano de entrar em ação todas as vezes que um paciente está na sua frente. Essa ideia foi encarada com tanta relutância, que ele decidiu cavar mais fundo na ideia de desacelerar a medicina junto com Yung Lie. Não muito depois disso, contatos foram feitos entre os colegas do movimento americano e italiano, e eles se encontraram em Turim, em 2015. Essa foi a primeira reunião internacional da Slow Medicine.

A abordagem holandesa consiste em unificar as ideias Slow Medicine em diversos princípios centrais. Isso pode ajudar a integrar as experiências práticas italianas e americanas em ensinamentos mais universais, de métodos e teoria. Em 2014, foram listados Dez Princípios. Em 2017, os temais centrais sobre os quais a Slow Medicine é baseada são:

  1. Tempo:

Tempo é o valor mais importante da Slow Medicine. Pesquisas mostram que quanto mais tempo e atenção os médicos dedicam para os pacientes, melhores diagnóstico serão feitos e haverá maior satisfação  dos pacientes.

  1. Autonomia e Auto-cuidado:

Compartilhamento de decisões e foco nos valores, expectativas e preferências do paciente, são peças chave. Isso engloba a integração do programa de cuidados ao ambiente do paciente: família, vizinhos, amigos e outros recursos.

  1. Compaixão e Cuidado centrado no paciente:

Isso significa cuidado & cura sob medida, ressaltando o cuidado  personalizado e individualizado, claramente em oposição ao tratamento genérico e hospitalocêntrico. Significa uma atitude aberta não só do médico, mas também do paciente. Este terá que aprender a ser assertivo, fazer perguntas, etc.  Este processo é chamado de “decisões compartilhadas”.

  1. Saúde Positiva:

O pesquisador holandês Machteld Huber  desenvolveu um novo conceito de saúde, considerando 32 aspectos e 6 dimensões de saúde. A definição atual de saúde, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (a ausência de doença física, psicológica e emocional), é muito limitada. A definição da OMS é focada em recuperação completa, enquanto a Slow Medicine enfatiza a relevância da adaptação e resiliência. Esta abordagem realça o auto-cuidado das doenças, o que leva a uma percepção mais confiante da saúde. A Saúde Positiva proporciona uma estrutura conceitual e um esquema de tomadas de decisões médicas, para uma medicina mais centrada na qualidade de vida.

  1. Medicina Preventiva e Integrativa:

A medicina integrativa reconhece que o corpo e a mente interagem; essa ideia é crucial para a prevenção e tratamento de doenças. Nessa abordagem, o paciente tem responsabilidade e um papel ativo no processo de recuperação. Frequentemente, tratamento é uma combinação de medicamentos clássicos e intervenções adicionais. Normalmente, pacientes que sofrem de doenças quem um diagnóstico preciso na medicina tradicional, mostram resultados positivos quando praticam Meditação, Yoga, Acupuntura, Homeopatia e intervenções dietéticas.

Brasil: A Medicina Sem Pressa

Em 2015, o site brasileiro da Slow Medicine foi lançado. A filosofia da Slow Medicine foi trazida ao Brasil pelo cardiologista Marco Bobbio, um dos fundadores da Slow Medicine Italiana. Seu livro Il malato imaginato (2010) foi traduzido para o português em 2014, e esgotado logo após seu lançamento. Logo depois, uma série de palestras se sucederam no Brasil, e foi o que inspirou José Carlos Aquino de Campos Velho (Geriatra e Clínico Geral), Dario Birolini (Professor em Cirurgia), e Kazusei Akiyama (Clínico Geral) a estabelecer uma ramificação brasileira da Slow Medicine.

O site contém uma rica variedade de conteúdos traduzidos de fontes Slow Medicine italianas, americanas e holandesas, e os três médicos de São Paulo organizam regularmente workshops e palestras sobre assuntos como Choosing Wisely e cuidados paliativos. Além disso, eles almejam adaptar os temas dos fundadores da Slow Medicine, como Alberto Dolara e Dennis McCullough, para a prática médica brasileira. Deste modo, a abordagem brasileira é a combinação da americana, que foca principalmente em geriatria e cuidado paliativo nos últimos estágios da vida, e a italiana, que possui um escopo mais amplo.

Perspectivas Internacionais da Slow Medicine

Em março de 2015, Dennis McCullough, Dick Koster e Yung Lie participaram da Conferência Slow Medicine em Turim. Ambos proferiram palestras sobre suas respectivas abordagens e compartilharam seus pontos de vista. Esse foi o primeiro encontro internacional Slow Medicine. Depois disso, planos para estabelecer um movimento internacional Slow Medicine foram discutidos. Lamentavelmente, Dennis McCullough faleceu em 3 de junho de 2016. Sua morte significou muito para o movimento, ainda incipiente. A combinação da sua sabedoria e forte, porém atenciosa, personalidade, impressionou muitos e ainda deixa saudades.

Um dos primeiros projetos consistia na criação de um manual sobre a Slow Medicine em inglês. Isso iria ajudar a ampliar o alcance do movimento. A fonte mais compreensível e adequada hoje é o livro “Slow Medicine” italiano: “Slow Medicine. Perché una medicina sobria, rispettosa e giusta è possibile” (2013), por Giorgio Bert, Andrea Gardini, Silvana Quadrino. Durante o processo de tradução do livro Slow Medicine  do italiano para o  inglês, percebeu-se que muitas das informações e protocolos eram bastante específicos para o contexto italiano. Grandes diferenças nos sistemas nacionais de saúde e em seu financiamento desfocam as ideias relativas à assuntos comuns, na perspectiva da Slow Medicine.

Para exemplificar, na Holanda existem Diretrizes Nacionais de Orientações para Médicos Generalistas. Essas orientações possuem muito em comum com os protocolos da Associação Italiana Slow Medicine. O cuidado paliativo e infraestrutura de hospices já são muito comuns na Holanda, enquanto nos Estados Unidos significam uma importante mudança de paradigma no sistema de saúde, particularmente no que se refere à atenção geriátrica.

A abordagem dos Estados Unidos é muito voltada para a prática cotidiana, personalizada e centrada em casos específicos. Nos livros de McCullough, Sweet e Butler, todos conectam histórias pessoais com os princípios dos Cuidados Paliativos. A Slow Medicine Italiana oferece uma perspectiva mais sistêmica. Nas publicações e palestras, normalmente vemos considerações filosóficas, aparentemente, como uma prerrogativa importante para tomar passos adicionais. Os bem elaborados programas de aprendizado e cursos práticos ao redor do país são só um exemplo. Dito isso, essas diferenças dificultam o discernimento de princípios comuns que vão além de “meras palavras”.

Questões para Discussão:

  • A Slow Medicine é um ‘estado psíquico’, como afirma Victoria Sweet? É suficiente apenas ‘dedicar o tempo’ na prática médica ou precisamos de um alicerce metafísico mais concreto como uma licença para operar no modo Slow Medicine? Ou é possível ter os dois?
  • É interessante passar pelos pressupostos gerais, como os listados acima, e ter uma percepção maior sobre as diferenças e semelhanças. E, sobretudo, quais são os padrões mais importantes que podem ser pesquisados e desenvolvidos em uma perspectiva internacional? Talvez pudéssemos tentar desenvolver uma espécie de taxonomia da Slow Medicine com os diferentes países, focando em seus pontos fortes? Essa metodologia e estrutura irá ajudar no quesito de tomada de decisão médica?
  • A Slow Medicine é um movimento somente para médicos (e seus colegas de hospital e prática de Clinica Geral) ou é um movimento mais amplo, onde os pacientes também estão envolvidos? A Slow Food considera ambos. Consumidores precisam estar cientes do valor agregado presente nos produtos Slow Food, para que aceitem pagar o valor justo. Os produtores estão mais motivados a produzir alimentos Slow Food quando a demanda aumenta. O sistema de saúde, obviamente, são uma  forma diferente de negócio. Mesmo assim, se mais e mais pacientes demandarem uma abordagem Slow, isso pode repercutir em boas notícias sobre a Slow Medicine na esfera de trabalho médico.
  • Nós afirmamos que o fator “tempo” é um tópico interessante que merece um estudo e análise adicional. Semanticamente alinhado com a palavra “Slow” (lento, do inglês), tempo é um fator chave na Slow Medicine. Na medicina tradicional, tempo muitas vezes é algo que deve ser superado. Efetividade e eficiência dominam a relação médico-paciente de forma negativa. A regra dos 18 segundos foi definida como: o tempo que um médico escuta e então assume a conversa e dá o diagnóstico; isso é uma imagem vergonhosa. A “re-valorização” do tempo e atenção consciente é um dos princípios chaves que merecem maior estudo, abordagens inovadoras, etc.

Observação: – os textos que acompanham os comentários dos 3 autores americanos são citações de seus sites na Internet.

PS:

-O dr. José Carlos Campos Velho colaborou com a revisão da tradução, sugestões e com a edição do artigo.

-Adriana Murasaki , no momento vivendo em Londres, onde faz um curso de tradução e ensino da língua inglesa, generosamente traduziu o texto. Contato: [email protected]

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Yung Lie, advogado e mestre em Direito, é co-fundador do Instituto Slow Medicine na Holanda. Yung é um inovador na esfera pública. Ele tem trabalhado em projetos com participação dos cidadãos no campo da renovação e regeneração urbana. Nos primórdios da Internet, ele desenvolveu um conjunto de ferramentas online para uma formulação de políticas de “baixo para cima” que originou muito debate. Ele tem aconselhado e treinado políticos de governos locais e nacionais em co-criação e políticas “de pessoa para pessoa”. Sendo o filho de dois médicos, por muito tempo foi fascinado pela prática médica. De algum modo, a distância entre um político e um cidadão é comparável à distância entre um médico e seu paciente. A Slow Medicine pode trabalhar para aproximar esses dois extremos.

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