Sobre a necessidade da Slow Medicine

novembro 13, 2017
2 comment
Visitas: 3794
4 min de leitura

 Read this post in english

por Victoria Sweet© , 2017

Todos os dias, em todos os países desenvolvidos, os custos de cuidados com a saúde aumentam, não importa qual estratégia de economia de dinheiro os políticos coloquem em prática. Capitação, concorrência, registros eletrônicos de saúde, telemedicina, cuidados baseados em equipes multidisciplinares, burocracias para o cálculo dos valores – em todos os lugares as mesmas ideias levam aos mesmos resultados: os cuidados com a saúde hoje custam de duas a três vezes o valor do que custavam, em relação ao PIB de um país há 40 anos atrás, com os pacientes cada vez mais insatisfeitos, os médicos esgotados e os políticos da saúde frustrados. Mesmo assim, na minha vida como médica, o que tem me impressionado mais é o oposto – quão eficiente e rentável é quando pacientes e médicos simplesmente passam tempo suficiente juntos.

O segredo que os economistas ainda não notaram é que o que as pessoas querem como pacientes ou como médicos, é o diagnóstico certo e o tratamento certo. E, para isso acontecer, rapidez, tecnologia e eficiência – ‘Fast Medicine’ (ou com pressa, em oposição à Slow Medicine, a Medicina sem Pressa) – não são suficientes. O que pacientes e médicos também precisam, em adição às maravilhas da tecnologia, é tempo. O tempo pode não curar todas as feridas, mas cura muitas delas, e ter tempo suficiente, embora tão ineficiente quando colocado no papel, acaba sendo o cuidado com a saúde mais eficiente de todos. No livro Slow Medicine: The Way to Healing (Medicina Sem Pressa: O caminho para a cura, em tradução livre), você vai conhecer os médicos, enfermeiras e pacientes e experienciar os eventos que me levaram à essa conclusão.

Como no meu primeiro livro, God’s Hotel: A Doctor, A Hospital, and a Pilgrimage to Heart of Medicine (New York: Riverhead Books, 2012), eu mostro e conto as histórias desses personagens, porém, neste novo livro, eu troco a posição da câmera e a Slow Medicine é tanto prequela quanto sequência. A filosofia de Jung entra logo no início, junto com elementos culturais que contextualizam a redescoberta moderna do movimento Slow. A mística do século XII, teóloga e praticante da medicina, Hildegard von Bingen, contribui com a peça que faltava, com seu conceito de viriditas – ecologização –   um tipo de poder de cura natural que precisa, acima de tudo, de tempo e cuidado.

O que eu tenho aprendido na minha vida como médica, é que a medicina e a enfermagem são caminhos espirituais. Eles são relacionais e pessoais; eles são mais como algo parental e apaixonante do que providenciar cuidados com a saúde retirados de alguma prateleira. Para fazer bem isso é preciso não só tempo suficiente, como também um profundo conhecimento conquistado, que nenhum algoritmo consegue substituir. Miraculosamente – e ironicamente! – quando feito desta maneira, nós ficamos não só com a medicina mais satisfatória, mas também com a mais rentável.

Então Slow Medicine: The Way to Healing é uma consideração e um chamado para a ação e para a não-ação, considerando não somente a medicina e a enfermagem, mas também o que é necessário trazer para nossas próprias vidas – o Fast e o Slow juntos, a ferramenta certa para a tarefa certa, reconhecendo que as operações são rápidas, mas a cura é vagarosa.

 

2 Comentários

  1. Parabéns por seu trabalho como médica. É uma inspiração para mim ler seu blog e seus livros, testemunhos do exercício vocacionado da Medicina tal qual um blend de fast medicine e slow medicine, uma prática além do algoritmo. Freud escreveu que Medicina e Psicanálise deveriam caminhar próximas mas separadas porque são praxis distintas. Enquanto médico percebo como seu exemplo me faz um médico que trabalha com mais paixão e amor. So nice to meet you!

  2. Parabéns por seu trabalho como médica. É uma inspiração para mim ler seu blog e seus livros, testemunhos do exercício vocacionado da Medicina tal qual um blend de fast medicine e slow medicine, uma prática além do algoritmo. Freud escreveu que Medicina e Psicanálise deveriam caminhar próximas mas separadas porque são praxis distintas. Enquanto médico percebo como seu exemplo me faz um médico que trabalha com mais paixão e amor. So nice to meet you!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Newsletter Slow Medicine

Receba nossos artigos, assinando nossa
newsletter semanal.
© Copyright SlowMedicine Brasil. todos os direitos reservados.