Algumas considerações a respeito de um artigo de Francis W. Peabody publicado em 1927

novembro 18, 2017
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Por Dario Birolini:

Francis Weld Peabody (1881-1927), professor da Harvard Medical School e uma das mais importantes figuras da medicina americana da época, era conhecido como the Caring Physician ou, o medico cuidador. Em várias circunstâncias ele afirmou que uma das qualidades essenciais do médico é seu interesse pelo perfil humano de seus pacientes e, no encerramento de uma conferência aos estudantes da Harvard, ele os alertou que o enfoque central do cuidado ao paciente está em cuidar dele de uma forma integral, como ser humano, e não em limitar-se a tratar sua doença. No artigo publicado por ele no Journal of the American Medical Association em março de 1927 e cujo título é  “The care of the patient” , Peabody tece uma série de considerações absolutamente surpreendentes, pois parece que ele já estava prevendo o que aconteceria com a medicina no decorrer dos anos.

Assim, alerta para o fato de que não se pode imaginar que em alguns poucos anos dedicados ao curso de graduação seja possível formar médicos experientes e qualificados. Afirma ainda que, tendo em vista a enorme quantidade de trabalhos científicos oferecidos aos estudantes, o ensino médico tem se voltado cada vez mais para a ciência minimizando o impacto da arte da medicina cujo fundamento essencial é a relação entre o médico e seus pacientes.

Em decorrência, os jovens médicos conhecem profundamente os mecanismos das doenças, mas muito pouco sabem a respeito da prática da medicina, são muito instruídos cientificamente, mas não sabem cuidar dos pacientes e desconhecem o fato de que a doença de um ser humano é diferente da doença em animais de experimentação.

Chama a atenção para o fato de que é completamente diferente fazer uma prescrição de numerosos medicamentos para corrigir uma doença do que tratar um paciente corretamente.

Para complicar mais um pouco o panorama, alerta para o fato de que o atendimento oferecido nos hospitais tende a ser impessoal, pois não leva em conta o perfil do paciente e costuma ser feito por vários profissionais que muitas vezes valorizam os exames e esquecem a avaliação clinica, e alerta para o fato de que não adianta focalizar a atenção apenas em um órgão do paciente, pois ele é apenas uma parte de um ser humano.

Conclui que o paciente não pode ser visto apenas como se fosse uma fotografia, mas deve ser analisado como se fosse uma pintura impressionista, que retrata sua casa, seu trabalho, suas relações, seus amigos, suas felicidades e seus pesares, suas esperanças e seus receios. Diz, ainda, que cada um de nós é afetado consciente ou inconscientemente pelas forças espirituais que podem agir como poderosos estimulantes ou deprimentes.

Chama a atenção para o imenso impacto na fisiologia do organismo e na função dos órgãos por parte de reações emocionais e alerta para o fato que o diagnóstico diferencial entre uma doença orgânica e um distúrbio funcional pode ser extremamente difícil.

Por estes motivos, é essencial que o médico ou o estudante de medicina conversem com o paciente não apenas no que diz respeito a seus sintomas, mas a respeito de sua vida, de seus critérios de valores, de suas expectativas. Tal contato pode transformar-se em um instrumento fundamental para esclarecer seus sintomas e orientar seu tratamento.

A conversa com um clínico dedicado e atencioso que tenta esclarecer a situação oferece mais força ao paciente do que uma receita cheia de medicamentos e de orientações dietéticas. O que interessa é valorizar a qualidade de vida e suas as prospetivas e tais objetivos só podem ser alcançados através de um relacionamento respeitoso e honesto que é o componente fundamental do cuidado a ser prestado aos pacientes.

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