As concepções de Dennis McCullough – Slow Medicine para idosos (parte II)

agosto 28, 2017
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Por José Carlos Campos Velho:

Esta é a segunda parte do artigo sobre as concepções de Dennis McCullough no que tange à aplicação dos princípios da Slow Medicine na atenção aos idosos. Na primeira parte, exploramos o conteúdo de seus sites e algumas proposições presentes seu livro My Mother Your Mother. Neste artigo, nos baseamos em uma aula proferida por Dennis McCullough , de livre acesso na internet, através da transcrição e tradução dos slides.

Alguns princípios devem ser considerados quando falamos de Slow Medicine para idosos.

Devemos sempre levar em consideração o contexto cultural e valores do paciente e sua família, ponderar todas as decisões sobre os cuidados oferecidos aos idosos, buscar ampliar as redes de suporte e estimular a defesa e intercessão em favor dos idosos.

Para os idosos e famílias, a Medicina sem Pressa é uma filosofia e um conjunto de práticas para melhorar a qualidade de vida e a qualidade dos cuidados prestados, enquanto para médicos e outros profissionais de saúde, representa uma maneira aprimorada de entender e orientar os anciãos e suas famílias.

Baseando-se em um documento da American Geriatrics Society sobre o manejo de pacientes portadores de múltiplas comorbidades – Guiding Principles for Management of Multymorbidity, alguns itens são apontados como norteadores da prática:

-Preferências do paciente;

-Interpretação das evidências, lembrando que o cuidado de doentes crônicos e frágeis é uma “área livre de evidências” e as diretrizes de prática clínica frequentemente apresentam conflitos com a real situação clínica do idoso;

-Considerações prognósticos, uma habilidade clínica pouco explorada e desenvolvida e que pode servir como um “trampolim” para discussões mais profundas; vivemos um momento onde é necessário um segundo olhar aos cuidados que prestamos para os idosos pré-terminais e em fases avançadas de doenças crônicas, tendo sempre em mente o princípio bioético  “primum non nocere – em primeiro lugar não causar danos”.

-Viabilidade clínica, onde a complexidade dos tratamentos e os riscos do tratamento devem ser avaliados com a necessária ponderação, pois eventualmente a sugestão “parece boa no papel, mas impossível para idosos, familiares e cuidadores “;

-Otimização terapêutica, através da elaboração de um plano de cuidados, onde a cautela com medicamentos “promissores” e com a polifarmácia devem ser sempre consideradas, focalizando a resolução de conflitos, através do estímulo para a comunicação entre médicos, uma tarefa que requer paciência e persistência.

O empenho é no sentido de uma compreensão mais profunda do paciente. É preciso salientar que informar o paciente não significa ser compreendido pelo paciente e que o envolvimento da família e amigos deve ser uma constante no processo de tomada de decisões concernentes à saúde dos idosos. Muitas vezes a dedução de algumas preferências não significa que a decisão tenha sido tomada, até porque as preferências podem mudar ao longo do tempo.

Como podemos, então, incorporar os princípios da Slow Medicine na prática convencional (Fast Medicine)?

Uma questão apontada é que o conhecimento gerontológico, e não apenas geriátrico, deve estar presente na abordagem dos idosos, pois a compreensão multiprofissional traz uma diversidade de olhares àquela situação que amplia consideravelmente as alternativas terapêuticas. A questão da  eficiência deve ser menos enfatizada e o foco é no raciocínio clínico sereno e pausado.

Dennis, jocosamente, sugere alguns efeitos colaterais da Slow Medicine, ou seja, um maior controle das decisões para os idosos e suas famílias, uma maior variedade de escolhas disponíveis, uma atenção humanística com possível redução de custos. E afirma que “nosso sucesso futuro reside em saber como cuidar melhor dos doentes crônicos e frágeis”. Abraçar conscienciosamente esta tarefa leva a aquisição de uma maior expertise clínica para a tarefa de aconselhamento dos idosos.

O atual Sistema de Saúde apresenta lacunas no atendimento às pessoas idosas, frágeis e cronicamente doentes. Observa-se falta de conexão entre o paciente, a família  e os prestadores de cuidados em saúde, além de uma coordenação precária dos cuidados médicos. As necessidades de cuidados para idosos não são congruentes com a forma como o este cuidado vem sendo prestado atualmente.

Ajudar as comunidades no desenvolvimento de um programa de cuidados se concentra na resolução de problemas médicos e sociais e na vigilância de indivíduos de alto risco; a preservação do idoso, evitando sua transferência precipitada para serviços de emergência , exceto em situações que realmente o justifiquem. A utilização de serviços voluntários e a colaboração com Agências provedoras de Serviços Médicos e Sociais podem fazer a diferença no sentido de romper o sentimento de isolamento , fator de impacto frequentemente negativo na saúde das pessoas idosas.

Programas bem-sucedidos são embasados em relacionamentos sólidos, confiança, continuidade  de cuidados, compaixão, sempre que possível oferecidos onde o idoso vive.

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