Montagna Slow: um projeto da Associação Italiana de Slow Medicine

maio 21, 2023
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Por Sandra Vernero:

Montagna Slow é o nome de um projeto nascido em junho de 2019, inserido no Slow Medicine ETS, Organismo do Terceiro Setor, uma associação de profissionais, pacientes e cidadãos que discutem e se comprometem com a construção de um modelo de saúde compartilhado, baseado na sobriedade, respeito e justiça.

Os três princípios escolhidos por este movimento para definir uma medicina sóbria, respeitosa e justa são a base do projeto Montagna Slow e foram descritos a seguir:

MONTANHA SLOW:

Projeto da associação Slow Medicine ETS para uma abordagem sóbria, respeitosa e justa à montanha, que promova a saúde e o bem-estar de todos e proteja o ambiente e a biodiversidade.

MONTAGNA SLOW é:

SÓBRIA:

A Montanha Slow promove uma vida saudável, simples e essencial, convidando-nos a evitar o desnecessário, o excesso, o desperdício e a velocidade, a defender os recursos naturais e a paisagem, a ter um comportamento consciente e a não colocar em risco a própria vida ou a dos outros .

“NA MONTANHA, FAZER MUITO E RÁPIDO NÃO SIGNIFICA FAZER MELHOR”

RESPEITOSA:

A Montanha Slow respeita o meio ambiente e o ecossistema, as pessoas, os animais, as árvores, a paisagem, a cultura, a história e as tradições locais; promove o autoconhecimento e o relacionamento entre as pessoas; respeita a harmonia entre a natureza e seu próprio tempo.

“AMAR A MONTANHA É RESPEITÁ-LA”

JUSTA:

A Montanha Slow se adapta a todos, de todas as idades, condições físicas e mentais e de qualquer condição econômica e social. Promove o bem-estar de todos, saúde física, mental e espiritual.

“A MONTANHA É SAÚDE E BEM ESTAR PARA TODOS”

O projeto nasceu do encontro, no Valle d’Aosta (Itália), entre a Dra. Sandra Vernero, presidente da Slow Medicine ETS, Anna Galliano, professora, e Maurizio Bal , filósofo, que, após décadas ensinando como instrutor e dirigindo uma escola de esqui, elaborando suas experiências e refletindo sobre vários fatores, pensou em uma visão diferente do esqui.

De fato, em 2011 ele havia publicado Slow Ski, Skiing different, pela editora Le Château, no qual ofereceu ao esquiador uma abordagem calma e serena do ambiente e um convite para não esquiar tendo a velocidade como mito, mas sim para estabelecer uma relação entre corpo e mente, vivenciando o mundo da neve em harmonia consigo mesmo e com a natureza.

Neste sentido, também abordou a técnica do esqui nas suas várias fases, de forma a instrumentalizar quem pretende entrar na dimensão do esqui com as noções essenciais para que se desloque com liberdade e autonomia na neve, uma vez que o objetivo é o contacto com o ambiente no inverno, experimentando-o como uma dimensão da saúde física e mental.

Depois de tantos anos, diversos fatores como a pandemia, as mudanças climáticas cada vez mais evidentes, as nevascas cada vez mais raras, a consciência de como a saúde humana está intimamente ligada à saúde do meio ambiente em sua totalidade, tornam urgente e necessária uma mudança do olhar para as montanhas e o esqui.

A montanha torna-se um lugar a ser cuidado e respeitado, pois representa um recurso importante para a nossa saúde. A montanha, em todas as estações, nos oferece bem-estar, além de um mergulho nas dimensões da floresta, considerando desde a oxigenação que ela nos oferta como a recarga energética que as árvores nos proporcionam.

O projeto Montagna Slow quer, de fato, espalhar o convite a todos para que se aproximem das montanhas em qualquer época do ano, numa perspectiva em que o objetivo principal é a saúde – por isso propõe atividades que todos podem realizar nestes ambientes tão tranquilos.

A ideia da Montagna Slow do Valle d’Aosta se espalhou para outras regiões italianas e deu origem a uma rede que inclui, junto da Slow Medicine, Alpibio (uma associação de Trento), o Movimento Slow Food e a associação ISDE (Médicos para o ambiente).

Assim, estão sendo desenvolvidos projetos no Valle d’Aosta, Trentino Alto Adige e Friuli Venezia Giulia, envolvendo pequenas comunidades locais e proporcionando a difusão de boas práticas que promovam a saúde das pessoas e do ambiente:

– atividade física moderada regular (o mito da velocidade não faz bem à saúde);

– contato com a natureza e com a floresta;

– nutrição adequada com o uso de produtos agrícolas e pecuários locais.

É uma abordagem que privilegia simultaneamente a sociabilidade, a proteção do território e da mata bem como as memórias e tradições das regiões serranas, além do desenvolvimento turístico responsável e sustentável.

Nesse sentido, em outubro de 2022, graças à colaboração da Slow Medicine com o Grupo de Ação Local de Aosta, foi organizado um evento no Valle d’Aosta em Saint Denis chamado “A floresta é saúde”, no qual um dia foi dedicado à divulgação desta nova dimensão serrana, também ligada à medicina ambiental, biofilia, educação alimentar e terapia florestal. O outro dia foi dedicado a experiências diretas de contacto com a floresta de Lavesé, acima de Saint Denis (outros eventos semelhantes serão organizados no próximo ano).

O objetivo do projeto Montagna Slow é apresentar a montanha como um lugar onde, em todas as estações, independentemente dos clichês clássicos, como a neve no inverno, é possível realizar atividades que permitam a todos obter benefícios salutares.

As atuais condições climáticas sugerem como evidente uma situação já presente em anos anteriores; uma reação até agora tem sido criar artificialmente a neve por meio dos chamados canhões.

A economia que gira em torno do esqui não se resigna a mudar sua visão e propõe soluções cada vez mais artificiais para permitir a prática do esqui.

No encarte do Corriere della Sera na segunda-feira, 28/11/2022, na página 37, o artigo intitulado “Neve perene, mas falsa” analisa precisamente essa situação.

Por um lado, as fábricas que produzem os canhões tentam trabalhar na evolução dos canhões de neve, para que produzam neve com menos água e menos energia e, dado que as temperaturas sobem, pensam em inserir o canhão dentro de uma grande câmara fria para produzir neve e depois transportá-la para fora.

A outra solução proposta é a neve “plástica”, ou seja, tapetes sintéticos que reproduzem a sensação de neve sob as bordas dos esquis.

Não seria mais fácil adaptar-se ao que a natureza oferece e imaginar diferentes formas de viver uma montanha em constante mudança, em vez de criar condições artificiais e falsas para não mudar?

Muitas vezes o homem tende a repetir comportamentos, mas muitas vezes é a coragem de mudar que representa a solução.

É preciso ousar, mudar o esquema e revolucionar o modelo anterior.

Certamente a montanha poderá oferecer muito mais se for vivida na sua dimensão autêntica e não artificial.

Em todas as estações você pode ir às montanhas. De fato, será uma oportunidade de observar que todos os meses do ano são maravilhosos, que cada estação tem suas características e belezas, oferecendo a possibilidade de atividades saudáveis ao ar livre. Se, por motivos de força maior, como a falta de neve, não for possível esquiar, faremos caminhadas para (re)descobrir a natureza e isso nos permitirá desvendarmos a beleza de uma natureza acessível a todos, portanto Justa, que Respeita a realidade, porque não a altera, e Sóbria, porque abre mão de artifícios.

E todas as localidades poderão se beneficiar do fato de se tornarem sempre locais de interesse, desde as mais conceituadas, centradas no esqui – que podem ampliar a oferta de diversas atividades, até às menos conhecidas, que poderão tornar-se interessantes justamente por sua dimensão tranquila e autêntica.

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Ana Galliano – professora

Maurizio Bal – instrutor de esqui e professor

Sandra Vernero – médica, presidente da Slow Medicine ETS

(Tradução livre do inglês por José Carlos Campos Velho)

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