O exercício da Slow Medicine : à guisa de um conceito

junho 25, 2018
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Por Dario Birolini:

“Cuidado por onde andas, que é sobre os meus sonhos que caminhas.”

Carlos Drummond de Andrade

Nestes últimos tempos têm sido divulgadas opiniões de colegas que, seja por boas ou talvez não tão boas intenções, têm sugerido que a Slow Medicine poderia, ou deveria, ser considerada uma “especialidade” ou, talvez, uma forma de “medicina alternativa” e que, como tal, deveria ser exercida por “especialistas” e divulgada para o público com estes objetivos.

As considerações a seguir pretendem esclarecer, de forma sintética e objetiva, estas “dúvidas” e estas sugestões.

Deve ficar claro que a Slow Medicine não é uma especialidade ou uma nova modalidade assistencial e muito menos uma forma de “medicina alternativa”, mas é, simplesmente, um incentivo à adoção dos princípios básicos e tradicionais da assistência ao doente, aprimorados pelo uso sensato e criterioso de todos os avanços tecnológicos, sejam diagnósticos como terapêuticos.

Em outras palavras não representa uma iniciativa destinada a levar o exercício de nossa profissão de volta ao passado. Muito pelo contrário, pretende promover um atendimento de alto nível, mas resgatando nossos valores tradicionais e enfatizando que o exercício da medicina deve ser realizado de acordo com os princípios fundamentais da ética e do respeito para com os pacientes, com a sociedade e com os colegas, e não movido por interesses econômicos ou de promoção pessoal.

Como tal, a adoção dos princípios da Slow Medicine pode e deveria ser adotada por qualquer especialidade, clínica ou cirúrgica, pois simplesmente pretende conscientizar o médico (e o próprio paciente…) de que o fundamental é a avaliação clínica pessoal, individualizada do doente e que os exames diagnósticos, por mais sofisticados, são apenas complementares e que os medicamentos, ainda que extremamente úteis e essenciais em determinadas situações, não substituem a adoção de hábitos de vida saudáveis.

O uso abusivo e “descabido” dos avanços tecnológicos, tanto em sua vertente diagnóstica como terapêutica costuma gerar “vítimas”, aumentar os custos e dificultar o acesso aos sistemas de saúde.

Obviamente, para que os princípios da Slow Medicine sejam adotados de forma correta e tenham resultados positivos é essencial que o médico seja um profissional com boa formação, experiente, devidamente qualificado e ciente de suas limitações e capaz, se necessário, de incentivar o paciente a ouvir uma segunda opinião.

Além disso, a Slow Medicine incentiva também o paciente a conversar com o médico de uma forma transparente, fazendo perguntas para esclarecer dúvidas e, desta forma, para compreender a natureza de seus sintomas e de sua doença, para conhecer as vantagens e os riscos do uso de medicamentos e para assumir sua própria responsabilidade no cuidado à saúde.

Termino estas breves considerações sugerindo que as sociedades médicas, as escolas de Medicina e os serviços públicos de saúde deveriam ser convidados e incentivados a participar da divulgação destes princípios, pois a adoção dos princípios da Slow Medicine resultaria em benefícios inquestionáveis e imensuráveis não apenas pela redução dos custos, mas e principalmente, pela melhoria da assistência evitando os riscos inerentes ao uso de métodos diagnósticos e evitando os efeitos adversos dos medicamentos e de suas possíveis interações.

6 Comentários

  1. Slow medicine é o resgate de um paradigma na prática médica, e portanto, sua proposta é transversal, não podendo ficar restrita a uma especialidade. Sequer deve ficar restrita à medicina, deve ser transversal a todo cuidado em saúde.

    Restringir slow medicine a uma especialidade seria submeter-se ao paradigma vigente: neocapitalista, multitarefas, da produtividade e consumo. Encaixota-se a filosofia resgatada para que o status quo permaneça inalterado.

    • Você tem toda a razão em suas afirmações, Bruno. Agradecemos o comentário.

  2. Devemos resistir a dar novos rótulos à medicina bem exercida. É como reinventar a roda: parto humanizado, hospital amigo da criança, médico de família, slow medicine (até em inglês!) tudo invenção para a vaidade de quem inventa e a confusão da sociedade.
    Só existem dois tipos de medicina: a bem exercida e a má prática! Esta última reflete o péssimo serviço de doença – opa saúde!- do nosso país e também dos países onde o mercantilismo dominou!

  3. Olá!

    Muito importante este esclarecimento. Ouso complementar o comentário do Dr Marco Bobbio: – não só médicos e enfermeiros, mas todos os profissionais de saúde, psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, etc.
    Este movimento veio pra ficar!

  4. À guisa de uma tradução do comentário do Dr. Marco Bobbio: “Eu concordo plenamente com Dario Birolini em relação à missão da Slow Medicine. Sinteticamente, propomos um novo paradigma para interpretar e praticar a medicina (dentro da estrutura da medicina científica / ocidental) que permita aos médicos e aos enfermeiros considerar cada paciente uma entidade única e pessoal, com valores, necessidades específicas e expectativas. Nós não praticamos uma medicina alternativa, nossos pilares são os resultados de estudos clínicos, de meta-análises e de diretrizes oficiais. Uma vez que estamos plenamente conscientes de que os conflitos de interesses também afetam os dados e as diretrizes, temos que interpretá-los e encontrar a maneira mais apropriada de aplicar o conhecimento científico a um paciente único. Reconhecemos que os resultados dos ensaios clínicos são a expressão da média de um grupo selecionado de pacientes; portanto, não podemos esperar aplicar automaticamente esses resultados a todos os pacientes. Cada indivíduo é um novo indivíduo.” José Carlos Campos Velho

  5. I completely agree with Dario Birolini regarding the mission of Slow medicine. Synthetically we propose a new paradigm to interpret and practice medicine (within the frame of scientific/western medicine) that enable physicians and nurses to consider each patient a single and personal entity with values, special needs, and expectations. We do not practice alternative medicine but our pillars are the results of clinical trails, of meta-analysis and of official guidelines. Since we are fully aware that conflict of interest affect data and guidelines we have to interpret them and to find the most appropriate way to apply scientific knowledge to a single patient. We recognize that the clinical trials’ results are the expression of the mean of a selected group of patients; meanwhile we cannot expect to apply automatically those results to every patient. Each one is a new person.

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